quarta-feira, 16 de março de 2011

O PESADELO ESTÁ AQUI...

























...Sob a minha cabeça os aviões do Aeroparque, nos meus olhos, a tela da televisão transmite a tragédia japonesa; nos meus ouvidos, as histórias de terror e superação vividos pelo povo da Floresta, que chegaram refugiados no Caic, de olhos marejados, descabelados, sujos de lama, feito legítimos sobreviventes da tormenta que fecha o verão de 2011. Trazendo desagradáveis surpresas.
No meu coração um sentimento pleno de estar participando, junto com a minha comunidade nesta hora do espanto. Os parnanguaras estão tendo a oportunidade de colocar à prova a sua decantada hospitalidade e solidariedade, que de fato, é mesmo. A nossa gente está trabalhando bonito. A imprensa está se esforçando para chegar e cobrir a realidade que se abateu sobre nos e trazer as reportagens revestidas de esperança e união.
Embora as matérias negativas como as dos saques nas localidades atingidas, por exemplo, também precisam refletir a realidade, portanto, um excelente momento para reflexões. Como bem disse a diretora comercial da Blue Sea Logística, Melissa Patamianos: “Será que é só dinheiro que interessa numa hora destas?”
Também não creio! O que está valendo a pena são os reencontros daqueles que estiveram por um triz e nasceram de novo. Eles precisam seguir adiante, com todo medo, dor e seqüela. Eles precisam ir para onde parece impossível ... Eles precisam da nossa atenção, neste momento e é muito gratificante acompanhar os jovens no trabalho comunitário, voluntário.
O que se ouve é a sentimento de incredulidade. Há pouco tempo estávamos solidarizados com a gente serrana do Rio. Hoje, é aqui. Guardando as devidas proporções, o tsunami também foi aqui. É impactante ver o poder de destruição da natureza em comoção. É chocante e realmente, inacreditável ver espaços imensos cobertos de árvores lapidadas, descascadas, nuas e brancas de tanto que rolaram serra abaixo. Um destes campos segurou um carro de algum morador dos arredores do Morro Inglês, num brinquedinho preto a olhos vistos. Uma coisinha deste tamanhinho perdida naquele rio de brancos troncos.
Pedras gigantes estranhamente limpas acabaram de nascer do seio da Serra da Prata e fizeram novos caminhos das águas de março. Só por Deus e por não termos, nas colônias, moradores em situação de risco, para não termos uma tragédia maior. Falando bem: Não tínhamos, agora temos! As veredas da tragédia anunciada foram escancaradas. As cicatrizes da Serra da Prata estão lá para qualquer um ver, a olhos nus, no Gigante Adormecido.
Numa hora destas não temos saída de escape. Não temos reservatório de emergência, não temos uma série de itens de segurança para uma cidade como a nossa que é um barril de pólvora. Pelo meu imaginário que, hoje em dia está mais realista do que telúrico. Afinal, a cada dia estamos crescendo mais e cercados pelo retro porto e os seus terminais inflamáveis, que cumprem exigências legais e ambientais de segurança, a gente sabe disto, mas, não nos esqueçamos das explosões nucleares de Fukujima que estão surpreendendo os organizados e competentíssimos irmãos asiáticos, que estão fazendo a lição de casa há milhares de anos ...
... Imaginem o jovem Brasil e seus esquecidos cidadãos que estão sobrevivendo só há pouco mais de cinco séculos, pela Graça de Deus, porque os colaboradores nomeados por Ele, nesta terra, estão fazendo pouco e nem sempre bem feita as suas partes.
Não me excluo desta lista.
Acredito que parte do grande atraso que Paranaguá sofreu nestes quase 500 anos de vida, pode vir a ser resgatado pelo menos, no básico da segurança, com responsabilidade e competência. É aproveitar o limão para prevenir ali na frente. Agora, não dá mais para negligenciar ou deixar os problemas rolarem, nem individualmente e muito menos coletivamente.
O bicho está pegando. Se parar, o bicho come ou, às vezes, pára também. Tá na hora desta moçada parnanguara mostrar o seu valor, como estão começando a mostrar! Se não tem bens materiais para doar, doem algum tempo ocioso, por exemplo, para confortar, estimular e acalentar vidas próximas. Muito próximas...
Dolly Polasek é Comunicadora Social, foto- jornalista e artista plástica que usa a imagem como expressão. É uma das criadoras do 1º site de foto-reportagem do Brasil www.sempalavras.com.br contato: dollypolasek@hotmail.com.br (41) 3422-1682/91611436.

terça-feira, 1 de março de 2011

CAINDO NA REAL COM AS CARAMINHOLAS SAMBANDO ...

As férias acabaram e as atividades têm de começar!
Há muito não via uma platéia tão apática como a da cantora Daniela Mercury.
Mas, o que despertava a minha curiosidade era ver uma platéia gigantesca que assistia passiva. Curiosa; senão não estaria ali.
Porém a grande maioria não se deixou contagiar pela energia e pelo show desta cantora brasileira. Uma cidadã de primeira qualidade, que busca através da cultura, fazer o seu papel social. Além de tudo: linda e a pioneira das cantoras baianas do carnaval que veio para abrir o nosso.
Um privilégio que não é para qualquer cacife. Aparentemente, um investimento alto para o surpreendente novo paladar caiçara.
Ali da fila do gargarejo era perceptível ver a cantora percorrendo o olhar e analisando o “seu” público. Ela era doação pura, eles: indiferentes. Na beira do palco é que acontecia a festa de alguns brasileiros afro-descendentes - de nascimento ou de alma, que acompanharam empolgados, reconhecendo a qualidade do espetáculo.
Mas este show me botou para pensar. Será que é apenas uma questão de gosto musical? Ou há algo mais entre a terra e o céu que anda paralisando de vez os pacatos bagrinhos?
E o 62º Banho? O que foi que aconteceu? Mudaram o rumo? Acabei perdida no meio do povo e fui ficando ali no Largo da Matriz, assistindo e fotografando e não vi o cortejo oficial. Para saber como havia sido, liguei para a mana Yaka, que me contava que estava ótimo, muito cheio, irreverente, seguro e alegre como sempre. Mas, também com muita coisa feia estranha ao Bom Banho, concluiu.
De bom ela contava feliz, que viu os amigos de 30, 40 anos atrás... Eu, também! O professor Brasílio estava comemorando o aniversário de dezenove anos da sua fantasia de Bam-Bam. Sem dúvidas, o banho é o melhor do nosso carnaval. Ponto de encontro mágico. É cultura popular e festa da verdadeira democracia, da criatividade do parnanguara e da crítica bem humorada.
E a troça do Pipoca, hem? Perfeita! O Tutóia sumiu e virou Tutonoía... Lamentável. Creio que este nosso cartão postal dava muito trabalho aos Serviços Urbanos da prefeitura porque, vivia desmontando nos temporais, assim como rapidamente as brancas e libertárias velas ficavam imundas obrigando atitudes de conservação, o quê na verdade, não é um fraco local e a intempérie um musgo constante.
Encontro Teodora com os olhos faiscando. “Amiga, vc não sabe o que me aconteceu”, conta ela, a sua história. “Aqui neste desfile tem muita coisa esquisita acontecendo, tem anjos e demônios, sem fantasia”. Ela contou que estava de costas e alguém a segurou de mau jeito, com força, e sentiu um arrepio incomum. Ao virar-se, era a Morte, na fantasia do portuário e cantor Nilo, que havia tropeçado e agarrado nela. Depois acabou sendo agredida por dois ajudantes das trevas, completamente embriagados e, por fim foi salva pela figura do Pirata do Caribe.
Eu também vi e fotografei o moço na frente da catedral. Impressionante! O mais belo personagem do 62º Banho. Impecável! Parecia o Johnny Depp em pessoa. Teodora passou se esbaldando ao lado dele ladeira abaixo, dizendo que antes que a morte chegasse iria tomar o banho de mar fantasiada de pirata. Levantou o tapa-olho e piscou cheia de malícia descendo faceira a ladeira da Matriz.
Gente, para aqueles amigos que não vi, neste ano, fica a saudade... Até o próximo... Se não mudarem a rota outra vez! Eta! Carnaval esquisito...
Esta da Daniela Mercury é para elucubrar...