segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

DRA. ZILDA ARNS NEUMANN

Adeus!
E nós também vamos um pouquinho juntas, porque ela representa o melhor pedaço de cada um de nós, seres humanos em geral e, mulheres, em especial. Bem como, através do seu exemplo, ficamos mais fortalecidos para seguir adiante.
Com ela e o seu trabalho dá para sabermos perfeitamente porque somos chamados para ser sal da terra e luz para o mundo. Espíritos como a Dra. Zilda aparecem no meio das gerações nascidos para nos lembrar como é para ser o verdadeiro cristão. Eles vêm testemunhar!
Enquanto os meus olhos registravam, quase aleatoriamente as cenas daquele funeral histórico, os meus ouvidos puseram-se, como poucas vezes na vida, a ouvir enquanto trabalhava.
Ali obtive algumas respostas cruciais para as minhas eternas buscas. Os depoimentos completavam lacunas naquela minha admiração e respeito que nutria pela Dra. Zilda Arns, que se assinava Neumann, também.
Cada um dos entrevistados falava de uma faceta montando o meu quebra-cabeça e reforçando o meu aquebrantado espírito cristão. Familiares, autoridades, políticos, amigos e colaboradores diretos como a Irmã Rosangela Altoé - que estava com ela na hora da sua morte – ressaltavam o legado, a fé e o carinho pela sua missão.
Irmã Rosângela descreveu a felicidade com que a Dra. Zilda respondia à ânsia dos haitianos em querer saber mais sobre a Pastoral da Criança e isto a deixou em estado de graça, “Muito alegre.” Altoé, destacava o estado de espírito da médica, mostrando que aquele momento não poderia ser de todo, triste e muito menos, injusto. Enquanto falava, Irmã Rosângela mergulhava de volta, buscando rever para entender e, finalmente, compreender que a Dra. Zilda deu a sua vida pela missão. Com alegria e fé.
“Ela estava muito feliz”, repetia Irmã Rosangela. Ela disse que a Doutora havia terminado a palestra, conversava com um padre e, que as suas últimas palavras haviam sido que a “Pastoral da Criança é uma pastoral essencialmente de amor”. Com o desabamento que aconteceu na igreja em que estavam, Doutora Zilda morreu na hora e o padre, com quem conversava, sobreviveu. Um dos filhos dela disse que ela morreu em pé, trabalhando, como sempre pedia nas três Ave-Marias que rezada junto aos filhos pequenos.
Naquele funeral a dor não foi manifesta com sofrimento dilacerante. Havia serenidade, compreensão e a vida fluindo como em qualquer grande acontecimento da vida. Os profissionais da imprensa estavam em busca da competência, num estresse que procuravam controlar e, sem vaidades aparentes, colaboravam entre si. Os políticos caprichavam nas palavras porque, afinal, Doutora Zilda merecia que tudo fosse politicamente correto. O governador José Serra, não ousou dizer que ela o apoiava explicitamente nas suas candidaturas, mas, definiu que sempre foram parceiros e que ela sempre torcia muito por ele e também sempre estiveram muito próximos. “Os netos dela queriam me conhecer (durante o velório) porque sempre ouviram falar de mim em casa”, ilustrou, aproveitando a oportunidade.
Serra definiu o trabalho individual da doutora Zilda e, da equipe de voluntários, como sendo o único no Brasil que fez diminuir, de fato, a mortalidade infantil.
Hoje, o trabalho que começou pequeno e simples em Florestópolis, no interior do Paraná, está espalhado em 20 paises, ajudando a salvar milhões de crianças, fazendo a Doutora Zilda ser indicada para o Prêmio Nobel da Paz em 2006.
Um dos políticos presentes lembrou que ela precisaria ser indicada novamente, de forma póstuma, prevendo que desta vez ela o receberia.
Uma integrante do Conselho Fiscal da Pastoral, falou que ela morreu como uma estrela atraindo a atenção do mundo sobre a sua missão. Foi verdadeiramente uma morte emblemática porque a Doutora a vida inteira esteve interessada nos mais pobres e fez desta percepção a sua vida, findando-a no mais miserável país das Américas, durante a maior catástrofe do Haiti.
O presidente Lula chegou emocionado e atrasado do Maranhão onde estivera naquele dia. Nós, da imprensa, o aguardávamos quase sem nos mexer perto de três horas, para não perdermos as nossas posições. Um sacrifício que valeu a pena pelo sentimento de missão cumprida em registrar a última homenagem desta grande e iluminada mulher brasileira.
Como disse o presidente Lula: “Que a partir do exemplo dela todos nós sejamos mais humanistas e solidários e olhemos com mais carinho para o nosso próximo, porque às vezes com pequenos gestos podemos ajudar”.



















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