terça-feira, 21 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL PARANAGUÁ...

Um dos melhores presentes, principalmente para os jovens, acabamos de receber. Ou melhor: Começamos a receber. Trata-se da entrega da reforma da Santa Casa de Misericórdia, que leva o nome do falecido advogado Mário Marcondes Lobo, que abrigará um espaço cultural e uma biblioteca.
Trata-se de um acontecimento destinado à vida intelectual da nossa comunidade e serão as crianças e os jovens os grandes favorecidos. Ganhar uma biblioteca, nos dias de internet, pode parecer fora de hora, principalmente quando tantos livros estão sendo despejados das suas casas, cada vez menores e, sem espaço para abrigar as prateleiras.
Por outro lado, quem ama os livros e a leitura, sabe o real significado de uma inauguração destas. E há quem duvide, mesmo em longo prazo, da substituição digital pelo papel. E, se isto acontecer a futura biblioteca também contará com as facilidades da tecnologia e os e-livros. No entanto, segurar um livro e percorrer as suas entranhas, sentir o cheiro da tinta e a textura do papel, complementam um prazer que oferece conhecimento e turbina a imaginação.
Einstein já dizia que a imaginação é tudo porque é o princípio do desenvolvimento humano. É na imaginação que nasce a evolução da vida real e a criação da ficção.
O filho do homenageado, o superintendente do porto, Mariozinho Lobo, foi de uma felicidade emocionante em relatar a sua relação amorosa com o pai através da afinidade com os livros. Naquele momento, os laços fraternos estavam literalmente eternos e Mariozinho alcançou o pai para redimir a última divergência, talvez a única, sobre as suas preferências autorais disputadas entre Mário Vargas Llosa e Gabriel Garcia Marques. O pai dizia que Garcia Marques era o melhor autor latino-americano, o filho: Vargas Llosa, que acabou de recebeu o Nobel de Literatura e sentiu uma vontade imensa de falar ao pai sobre o acontecido. Enfim, estavam quites...
Como Mariozinho falou o pai já recebeu inúmeras honrarias em nossa cidade e até no Estado, porém esta biblioteca é a mais significativa. Além de ocupar um imóvel histórico, erguido em 1835, Paranaguá ganhou mais uma referência, desta vez, para cuidar das almas, das mentes, dos corações e do intelecto da sua população. Melhor ocupação para aquele patrimônio histórico, impossível. Acabou-se o estaleiro da dor, para irradiar a luz (sem ser um Farol, do Greca) . Uma justa homenagem a um amante dos livros que defendia a cultura com coragem.
Um dia, por ocasião do desmembramento das praias, presenciei a vinda do político e também erudito, Rafael Greca, falando da nossa realidade com a prepotência de um colonizador. A platéia estava silenciosa, como bem cabe às mentalidades colonizadas que não ousam contrariar seus “superiores”... Mas, ao meio daquela agonia, sobressaiu uma voz poderosa que não se calou. Foi a única que contestou as arbitrariedades do senhor Greca. Fiquei um tempo ouvindo, tentando imaginar quem era o corajoso que se impôs com tanta propriedade. Era Mário Marcondes Lobo, que os meus ouvidos e olhos reconheceram como um respeitável conterrâneo. Ali nasceu a minha admiração por ele.
Junto com a família, amigos e demais admiradores deste “parnanguara quatrocentão” festejei o acontecimento como um marco. Um presente maravilhoso para o Natal desta cidade que já ostentou o título de “Berço da Civilização Paranaense” e hoje, dorme numa escassez cultural imensa. Espero que este espaço cultural e a biblioteca cumpram com o seu destino e não parem, no meio do caminho, feito o Cine- teatro Raquel Costa. De que adiantou aquele investimento para as suas funções originais?